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Um pouco de David Lynch

  • Foto do escritor: thiagovbastos
    thiagovbastos
  • 17 de jan.
  • 3 min de leitura

David Lynch é daqueles cineastas que não dá pra assistir de boa, sem ficar com a cabeça girando depois. Seus filmes são cheios de sonhos, pesadelos e um monte de coisa que parece não fazer sentido à primeira vista, mas que, no fundo, fala direto com nosso inconsciente. Dá pra dizer que ele é um cara que entende bem as teorias de Freud e Lacan, mesmo que não fique citando eles por aí. Lynch mexe com nossos desejos escondidos, traumas e aquelas partes da nossa mente que a gente prefere não encarar. E faz isso de um jeito que só ele.

Um dos temas que ele mais gosta de explorar é a ideia do duplo e da identidade fragmentada. Em Cidade dos Sonhos (2001), por exemplo, temos Diane e Betty, que na verdade são duas caras da mesma moeda. Diane é aquela parte da gente cheia de culpa e autodestruição, enquanto Betty é a fachada bonitinha que a gente mostra pro mundo. A história é cheia de reviravoltas e confunde o que é sonho com o que é real, o que é puro Freud. Aquele negócio do estranho, sabe? Quando algo familiar de repente fica assustador. É isso que Lynch faz o tempo todo: ele pega o cotidiano e transforma em algo perturbador.

E não dá pra falar de Lynch sem mencionar o Real, aquela ideia do Lacan que é tipo o inominável, o que não dá pra explicar direito. Em Veludo Azul (1986), o Jeffrey encontra uma orelha cortada no meio do mato e, a partir daí, cai num buraco de coelho cheio de violência e perversão. A orelha é um símbolo do Real, algo que não deveria estar ali, mas está, e bagunça toda a ordem das coisas. E o Frank Booth? Cara, ele é a personificação da falta, daquilo que a gente sempre quer, mas nunca consegue ter de verdade. Ele é violento, infantil e totalmente dominado pelos próprios desejos.

Outra coisa que Lynch adora são os espaços liminares, aqueles lugares que não são bem aqui nem ali. Em Twin Peaks (1990-1991, 2017), tem a Sala Vermelha, que é tipo um portal pro inconsciente. Lá, o tempo não funciona direito, e os personagens ficam frente a frente com seus traumas e desejos mais escondidos. Laura Palmer, a garota que é assassinada no começo da série, é um símbolo forte de como a violência e a repressão estão sempre presentes, tanto na sociedade quanto dentro da gente.

A estética dos filmes do Lynch também é uma viagem. Ele usa sons distorcidos, imagens surrealistas e histórias que não seguem uma linha reta. Parece que ele tá tentando imitar a lógica dos sonhos, onde tudo pode acontecer e nada precisa fazer sentido na hora. É como a técnica da livre associação da psicanálise, onde você solta tudo que vem na cabeça sem filtrar. Nos filmes dele, é a mesma coisa: as imagens e os sons vão te levando pra lugares que você nem sabia que existiam dentro de você.

E, claro, tem a questão da pulsão de morte, aquela ideia do Freud de que a gente tem um instinto de autodestruição. Em Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos, os personagens principais entram numa espiral de merda atrás de merda, sem conseguir escapar. É como se eles estivessem presos num ciclo de repetição, sempre voltando pro mesmo lugar, pro mesmo trauma. Isso é a pulsão de morte em ação: uma força que puxa a gente de volta pro caos, pro vazio.

No fim das contas, a obra do David Lynch é tipo uma viagem pro fundo da nossa mente. Ele não tem medo de mostrar o lado sombrio, os desejos escondidos e os traumas que a gente tenta esquecer. Seus filmes são como sonhos que viram pesadelos, mas que, de alguma forma, fazem a gente entender um pouco mais sobre quem a gente é. E, mesmo que você não entenda tudo de primeira, uma coisa é certa: depois de assistir um filme do Lynch, você não sai ileso. Ele mexe com a gente, e é isso que faz dele um gênio.


 
 
 

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